Quantas coisas aconteceram desde o dia em que
deixei de desabafar com você, logo você que muitas vezes foi meu único ouvinte.
O único que absorvia as minhas palavras fazendo-me sentir melhor, como se um
peso do tamanho do mundo fosse removido.
Preciso
contar-lhe, sobre os amores que vivi, todos eram amores de açúcar que
derreteram com os primeiros respingos d'água. Deixe-me contar sobre os vários
tipos de pessoas que encontrei, deixe-me dizer sobre o emprego que julguei ser
o dos sonhos, mas no fim era só um emprego, um que pagava as minhas contas, mas
que se recusava dar-me felicidade, e que na qual me agarrei como se florescer
dependesse dele.
Deixe-me
contar sobre os lugares que passei, sobre as lindas flores que colhi sobre os espinhos
que me machucaram, e das tantas outras vezes que também fui espinho. vi lindas flores desabrochar,
eu também vi flores horrÃveis brotarem, crescerem fortes até sufocar-me.
Deixe-me contar sobre o dia que por fim murchei, sequei, até esfarelar.
Queria ter
corrido para ti no dia em que chorei por causa de coisas que havia jurado nunca
chorar. Deixe-me contar sobre as escolhas que fiz, sobre os tombos que tomei,
sobre todas as mentiras que ouvi e tantas outras que contei.
Foi tão
triste sem você, me senti sozinha, perdida e prestes a desaparecer.
Também quero contar sobre a felicidade que senti, dos beijos que dei e também dos que recebi.
Eu queria que
estivesse lá, quando conheci a melodia que fez flores brotarem novamente no meu peito,
queria que também tivesse sentido o cheiro inesperado de uma primavera e de um verão fora de época, queria que tivesse visto o
rosto daquele que me envolveu em confiança enquanto deslizava seus dedos longos pelo
piano negro no centro do palco de um Theatro durante um concerto, como se aquela canção pudesse salvar quem estivesse lá ouvindo, e de
fato salvou um jardim inteiro morto dentro de mim.
Queria que
pudesse ter visto a forma que olhei para ele até que o olhar fosse
correspondido com um breve sorriso, queria que pudesse ter visto meu rosto
enrubescido à meia luz enquanto ele encantava-me, de forma eloqüente,
apaixonada, delirante.
Queria que
pudesse ter sentido o calor dos dedos dele enquanto tocava a minha pele,
afastando os meus cabelos para trás. Queria que pudesse ter escutado o som da
voz dele enquanto murmurava meu nome com tanto carinho. Devia ter visto a forma
como os pelos do meu corpo ouriçaram por causa dele, enquanto seus lábios
percorriam o meu pescoço com delicadeza indo de encontro aos meus lábios.
Queria que
tivesse visto como os meus olhos brilhavam ao fitá-lo. Eu senti tanto amor, amor
tão forte que fora capaz de me fazer esquecer quem eu era. Devia ter me
visto pegando o metrô às 17:00hrs até a casa dele nas semanas seguintes, apenas pelo prazer
de ser recebida com aquele sorriso que regava todas as flores espalhadas dentro
de mim.
Eu sei que
teria gostado da forma com que ele sorria, ele tinha um dom de tornar tudo muito simples, leve, você teria gostado de como ele comprimia o maxilar quando
estava concentrado ou preocupado com algo...
Algo que aos poucos deixou de ser eu...
Queria que tivesse me visto discutir sobre o novo jardim que o meu amado pianista encontrou durante um ensaio e outro, queria que estivesse lá, quando ele negou, dizendo que as minhas flores eram as únicas que o inspirava, beijou-me cada petá-la, jurou-me amor eterno, então amargurada eu sorri para ele, eu reconheci aquele mesmo amor de açucar que eu jamais seria capas de carregar por causa das poucas gotas d'água que ensistiam em cair, aquele amor doeu mais do que qualquer outro, eu sentia claramente que o açucar dentro de mim estava prestes a se tornar rocha sobre as minhas tantas flores, respirei fundo sentindo algo se agitar dentro de mim...
Oh, meu bom e velho amigo, eu queria que você tivesse visto como optei amar-me ao invés de amá-lo ainda mais. eu acabaria murchando de novo, secando de novo e me esfarelando a ponto de não mais viver.
Queria que
pudesse ver como fui forte para deixar a chuva que regava o meu jardim para
trás e tornar-me o meu proprio adulbo, minha própria chuva e meu próprio sol.
Queria
que tivesse visto todas essas coisas. Queria que tivesse visto o quanto cresci,
e o quanto estou sorrindo e chorando enquanto conto essas coisas para você, meu
bom e velho amigo...
Sabe de uma
coisa, talvez uma das coisas mais importantes que eu devia contar-lhe, é que eu
não mudei muito, ainda me sinto invisÃvel para as coisas que quero, ainda não
fui a primeira opção de alguém, ainda não fui verdadeiramente amada, não
enriqueci, não me tornei bem sucedia e também não tive filhos. Você devia saber também que permaneço tropeçando
nas minhas escolhas e caindo tantas vezes, que por vezes não quero levantar.
Mas quero que saiba que ainda não desisti, descobri que floresço aos poucos, lentamente, com a certeza de que chegarei lá, por meus própios esforços e dessa vez tentando evitar esses amores de açucar que me consomem a alma e secam as minhas raÃzes.
Queria ter
lhe contado todas essas coisas antes, mas por hoje quero contar-lhe apenas que
Eu estou de volta, e dessa vez é para ficar.